sábado, 26 de dezembro de 2009

Poesia e música: amo

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho"
Eça de Queiroz O Primo Basílio

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes

“HORA DE ESQUECER”


E o que eu desejo para mim e para você é esquecimento…
Coisa estranha de se desejar, parece mais uma maldição – pois quem é tolo de querer perder a memória? Eu mesmo vivo falando sobre a felicidade que mora nas lembranças e até mesmo acho que não está errado dizer que somos o que lembramos. Por isso gosto de contar casos, que é um jeito de fazer amor, dar aos outros pedaços da minha vida que o tempo já matou e enterrou, mas que a maga memória faz ressuscitar. Aquilo que a memória amou fica eterno,
disse Adélia Prado, e eu não me canso de repetir. A memória é a presença da eternidade em mim. E é para isso que preciso dos deuses, para que eu nunca esqueça, para que o passado volte sempre…
Recordo as Confissões, de Santo Agostinho. Releio seu maravilhoso capítulo sobre a memória, a meditação mais lúcida e profunda jamais escrita sobre o assunto. Diz ele: Palácio maravilhoso, caverna misteriosa, dentro da memória estão presentes os céus, a terra e o mar… Dentro dela eu me encontro comigo mesmo… É nela que moram os segredos da vida e da morte… E andando pelos seus caminhos, o santo vai à procura do obscuro objeto da nostalgia que faz o seu coração doer, e que beleza alguma é capaz de curar. Ele entra na memória como amante que vai à procura da amada, perdida…
E venho eu e desejo a todos o esquecimento… É que, por vezes, é preciso esquecer para poder lembrar…
Pois a memória, como o próprio santo notou, é o estômago da mente…. Para ali vão as comidas mais variadas, umas saborosas e de digestão fácil, outras amargas e impossíveis de serem digeridas. Quando isso acontece, o corpo se contorce e enjoa, e coisa alguma é capaz de fazê-lo feliz. Até que o próprio corpo se aplica o remédio, vomita, e assim se livra da comida que o fazia sofrer.
Memória, estômago: há nela coisas que precisam ser vomitadas, para que corpo possa de novo se alegrar. Pois o esquecimento é a memória vomitando o que faz o corpo sofrer.
Por isso que Roland Barthes dizia que é preciso esquecer a fim de ficar sábio.
Por isso que Alberto Caeiro dizia que o que ele desejava era desaprender, raspar de sua pele a maneira de sentir que lhe haviam ensinado, para poder, de novo, sentir o gosto bom de si mesmo.
Somos como um navio em que os detritos do mar vão se grudando, em meio ao muito navegar.
De tempos em tempos é preciso que o casco seja raspado, para voltar de novo a deslizar suave pelas águas.
Os detritos da memória depositam-se em nossos olhos, transformam-se numa nuvem leitosa, opaca, catarata, e nos tornamos cegos para o mundo a nossa volta. O mundo inteiro, então, se transforma num monte de detritos.
É preciso esquecer para poder ver com clareza. É preciso esquecer para que os olhos possam ver a beleza.
As Sagradas Escrituras contam a saga da mulher de Ló. Deus permitiu que o casal fugisse das cidades amaldiçoadas de Sodoma e Gomorra sob a condição de que não olhassem para trás, enquanto o fogo do céu as consumia. A mulher não resistiu à curiosidade, olhou para trás, e foi transformada em estátua de sal. Quem fica com os olhos fixados no passado se torna incapaz de ver o presente. E quem não tem olhos para o presente está morto.
Esquecer. Ver com olhos de criança – sem memória.
Mas nem sei por que estou dizendo todas estas coisas para explicar o meu desejo de esquecimento, quando o que eu quero dizer já foi dito por Alberto Caeiro:
O essencial é saber ver/ uma aprendizagem de desaprender/ Saber ver sem estar a pensar/
Saber ver quando se vê/ Ver com o pasmo essencial que tem uma criança, ao nascer/ Sentirse nascido a cada momento/ para a eterna novidade do mundo…
É isso que desejo para você e para mim, no início de cada ano: esquecimento. Tomar um banho. Deixar a água correr pelo corpo… Sentir os detritos do passado se despregando, e entrando pelo ralo. Recuperar o corpo sem memória da criança, para ver o mundo como se fosse a primeira vez…
Rubem Alves

THE ROAD NOT TAKEN


Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I could
To where it bent in the undergrowth
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I -
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost
Nossos caminhos são escolhas que fazemos, adoro esta poesia do Frost, pois, compartilho com ele da mesma opinião, escolhemos um caminho, e isto faz toda a diferença.

Tradução


ESTRADA NÃO SEGUIDA

Duas estradas divergiam em um bosque amarelo
e lamentando não poder seguir por ambas
e ser um viajante, longamente eu permaneci
e olhei uma delas até o mais longe que pude,
para onde ela sumia entre os arbustos.

Então, segui a outra, igualmente bela
e tendo talvez clamor maior
porque era gramada e convidativa;
Embora quanto a isso, as passagens
houvessem lhes desgastado quase que o mesmo,

e ambas naquela manhã se estendiam
em folhas que nenhum passo enegrecera,
Oh, eu guardei a primeira para um outro dia!
Contudo, sabendo como um caminho leva a outro,
eu duvidei de que um dia voltasse.

Eu estarei contando isso com um suspiro
a eras e eras daqui:
Duas estradas divergiam em um bosque, e eu –
Eu escolhi a menos percorrida,
e isto fez toda a diferença.

Adoro Cecília Meireles


"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, urna violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de urna borboleta."

Cecília Meireles

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Poemeu


Estou só... o travesseiro me convida à chorar, as estrelas do céu lentamente se apagam uma a
uma...
O espetáculo terminou...
Meu insubordinado coração teima em te amar... só ele não sabe que tudo acabou
Ah, noite triste, silenciosa... acabe logo... vai embora, pois de manhã meu corpo sucumbi ao cansaço eu durmo...
E amanhã quem sabe eu me convenço de que o que vivemos está para sempre perdido.
S.

Aos amigos que amo


Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde

Antimonotomia

Uma gota de tinta que treme na extremidade de sua pena cai marchetando uma página que, sem essa mancha requintada, estaria ameaçada pela monotonia.
GUILLAUME APOLLINAIRE

domingo, 20 de dezembro de 2009

Oásis...


A eternidade...


Ela foi encontrada! Quem? A eternidade.
É o mar misturado Ao sol.

Minha alma imortal, Cumpre a tua jura
Seja o sol estival ou a noite pura.

Pois tu me liberas Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos! Tua voas então...

- Jamais a esperança. Sem movimento.
Ciência e paciência, O suplício é lento.

Que venha a manhã, Com brasas de satã,
O dever É vosso ardor.

Ela foi encontrada! Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
Arthur Rimbaud


Homenagem ao grande gênio da poesia francesa, que apesar de ter escrito por apenas 04 anos, deixou uma obra densa, e cuja a magia da sua escrita, a intensidade do seu amor e o mistério de seu destino continuarão a exercer sobre nossa sensibilidade um poder exaltante de sonho e de emoção. S

Duas Almas

Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

Alceu Wamosy

Poemeu


Amei-te muito antes de te conhecer, amei-te no silêncio da noite, amei-te no amanhecer...
Amei-te na volúpia do olhar, amei-te por imaginar como serias, amei-te pelos sonhos que prometia sonhar...
Amei-te na espera febril, amei-te sem te tocar, amei-te de forma intensa e ardil, amei-te simplesmente por desejar amar...
Um dia chegaste feito brisa, em minha pele vieste tocar, descobri que desde sempre era tua e que só desejava te amar...
Fiz de ti o meu amor, minha vida, meu viver, por ti voltei a crer em preces, me fiz vulcão, me fiz mulher.
Por você enfrento o mundo, brigo, choro não desisto... plageio até o pensador, só que eu amo, logo existo.
S.

Eu amo Moulin Rouge

Fazendo pontes...


Somos a ponte para o sempre, arqueada sobre o mar, buscando aventuras para o nosso prazer, vivendo mistérios, provocando desastres, triunfos, desafios, apostas impossíveis, submetendo-nos a provas e uma vez ou outra, aprendendo o amor.

Sebastian Bach

Esquecer para lembrar



"E o que eu desejo para mim e para você é esquecimento.Coisa estranha de se desejar, parece mais uma maldição – pois quem é tolo de querer perder a memória? Eu mesmo vivo falando sobre a felicidade que mora nas lembranças e até mesmo acho que não está errado dizer que somos o que lembramos. Por isso gosto de contar casos, que é um jeito de fazer amor, dar aos outros pedaços da minha vida que o tempo já matou e enterrou, mas que a maga memória faz ressuscitar. Aquilo que a memória amou fica eterno, disse Adélia Prado, e eu não me canso de repetir. A memória é a presença da eternidade em mim. E é para isso que preciso dos deuses, para que eu nunca esqueça, para que o passado volte sempre…


Recordo as Confissões, de Santo Agostinho. Releio seu maravilhoso capítulo sobre a memória, a meditação mais lúcida e profunda jamais escrita sobre o assunto. Diz ele: Palácio maravilhoso, caverna misteriosa, dentro da memória estão presentes os céus, a terra e o mar… Dentro dela eu me encontro comigo mesmo… É nela que moram os segredos da vida e da morte… E andando pelos seus caminhos, o santo vai à procura do obscuro objeto da nostalgia que faz o seu coração doer, e que beleza alguma é capaz de curar. Ele entra na memória como amante que vai à procura da amada, perdida…


E venho eu e desejo a todos o esquecimento… É que, por vezes, é preciso esquecer para poder lembrar…


Pois a memória, como o próprio santo notou, é o estômago da mente…. Para ali vão as comidas mais variadas, umas saborosas e de digestão fácil, outras amargas e impossíveis de serem digeridas. Quando isso acontece, o corpo se contorce e enjoa, e coisa alguma é capaz de fazê-lo feliz. Até que o próprio corpo se aplica o remédio, vomita, e assim se livra da comida que o fazia sofrer.


Memória, estômago: há nela coisas que precisam ser vomitadas, para que corpo possa de novo se alegrar. Pois o esquecimento é a memória vomitando o que faz o corpo sofrer.


Por isso que Roland Barthes dizia que é preciso esquecer a fim de ficar sábio.


Por isso que Alberto Caeiro dizia que o que ele desejava era desaprender, raspar de sua pele a maneira de sentir que lhe haviam ensinado, para poder, de novo, sentir o gosto bom de si mesmo.


Somos como um navio em que os detritos do mar vão se grudando, em meio ao muito navegar.


De tempos em tempos é preciso que o casco seja raspado, para voltar de novo a deslizar suave pelas águas.


Os detritos da memória depositam-se em nossos olhos, transformam-se numa nuvem leitosa, opaca, catarata, e nos tornamos cegos para o mundo a nossa volta. O mundo inteiro, então, se transforma num monte de detritos.


É preciso esquecer para poder ver com clareza. É preciso esquecer para que os olhos possam ver a beleza.


As Sagradas Escrituras contam a saga da mulher de Ló. Deus permitiu que o casal fugisse das cidades amaldiçoadas de Sodoma e Gomorra sob a condição de que não olhassem para trás, enquanto o fogo do céu as consumia. A mulher não resistiu à curiosidade, olhou para trás, e foi transformada em estátua de sal. Quem fica com os olhos fixados no passado se torna incapaz de ver o presente. E quem não tem olhos para o presente está morto.


Esquecer. Ver com olhos de criança – sem memória.


Mas nem sei por que estou dizendo todas estas coisas para explicar o meu desejo de esquecimento, quando o que eu quero dizer já foi dito por Alberto Caeiro:O essencial é saber ver/ uma aprendizagem de desaprender/ Saber ver sem estar a pensar/Saber ver quando se vê/ Ver com o pasmo essencial que tem uma criança, ao nascer/ Sentir-se nascido a cada momento/ para a eterna novidade do mundo…


É isso que desejo para você e para mim, no início de cada ano: esquecimento. Tomar um banho. Deixar a água correr pelo corpo… Sentir os detritos do passado se despregando, e entrando pelo ralo. Recuperar o corpo sem memória da criança, para ver o mundo como se fosse a primeira vez…"



(Rubem Alves)


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Perto do coração selvagem

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
Clarice Lispector

Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Só enquanto eu respirar vou lembrar de você...


"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete
a cena se inverte
enchendo a minha alma
d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
tua palavra, tua história tua verdade
fazendo escola e tua ausência
fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar
no fim o fim é belo incerto...
depende de como você vê o novo,
o credo, a fé que você deposita em você e só
...Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você"
Essa poesia linda é a letra da música O anjo mais velho, do grupo Teatro Mágico... fui assistir o espetáculo deles e me encantei, pela beleza, pela leveza, pela poesia, pela ousadia do show. Poético e crítico... apaixonado e apaixonante...

Parabéns Fabro... Jabuti em casa!!!


"Abandonar o paraíso é a única forma de não esquecê-lo". Fabricio Carpinejar
Que delícia de crônica... que adorável CA-NA-LHA... adooro!
"É um defeito, mas nada mais delicioso do que ouvir de uma mulher: "CANALHA!"Ser chamado de "canalha" por uma voz feminina é o domingo da língua portuguesa. O som reboa redondo. Os lábios da palavra são carnudos. Vontade de morder com os ouvidos. Aproximar-se da porta e apanhar a respiração do quarto pela fechadura.Canalha, definitivo como um estampido, como um tapa.Não ser chamado de canalha pela maldade, mas por mérito da malícia, como virtude da insinuação, pelo atrevimento sugestivo.Não o canalha canalha, mas o ca-na-lha, sem repetição. Único.Não o canalha que deixa a mulher; o canalha que permanece junto. O canalha adorável que ultrapassou o sinal vermelho para levá-la. O canalha que é rude, nunca por falta de educação, para acentuar a violência do amor. Canalha por opção, não devido a uma infelicidade e limitação intelectual. Canalha em nome da inteligência do corpo.O canalha. Como um elogio. Um elogio para dizer que é impossível domesticar esse homem, é impossível conter, é impossível fugir dele. Canalha como pós-graduação do "sem-vergonha".Bem diferente de crápula, que não é sensual e define o mau-caratismo indelével, ou de cafajeste, alguém que não presta nem para ser canalha, de índole egoísta e aproveitadora.Eu me arrepio ao escutar canalha. Um canalha que significa o contrário do dicionário. Nem perca tempo consultando o Aurélio e o Houaiss, que não incluem o sentimento da pronúncia. Estou falando do canalha que suscita aproximação, abraço, desejo. Um canalha que é um pedido de casamento entre as vogais.É pelas expressões que se define a segurança masculina. Sempre duvidei de homem que diz que vai fazer xixi. Xixi é coisa de criança. Eu não represo a gargalhada quando um amigo adulto e de vida feita comenta que vai fazer xixi. Imagino o cara sentado. Infantil como Ivo viu a uva. Já urinar é muito laboratorial. Prefiro mijar, direto, rápido e verdadeiro. As árvores mijam. Os relâmpagos mijam. Os cachorros mijam para demarcar seu território. Aliás, o correto é não anunciar, ir ao banheiro apenas, para evitar constrangimentos vocabulares.Canalha funciona como uma agressão íntima. Uma agressão afetuosa. Uma provocação. Não se está concluindo, é uma pergunta. Canalha é uma interrogação gostosa.Não ficarei triste se você esquecer meu nome, chame-me de canalha."
Crônica extraída do Livro Canalha, premiado com o Jabuti/2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Poemeu

Um dia a dor foi maior, tudo aconteceu... o silêncio venceu, todo mundo de mim esqueceu... E eu fiquei lá... rezado para que o dia acabasse, que o tempo não se fizesse eterno, que ele morresse... ou me matasse.

S.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Um pouco de Elizabeth Bishop...

Elizabeth Bishop nasceu em 1911, em Worcester, Massachusetts. Nas palavras de David Orr, sua biografia inclui suficiente tormento para satisfazer São Sebastião. Perdeu o pai aos oito meses, a mãe enlouqueceu quando tinha cinco anos (foi internada em um sanatório e Bishop nunca mais esteve com ela), passou a infância estagiando em casa de familiares, ficou asmática, alérgica e deprimida. A partir da juventude, tornou-se alcoólatra. Assim mesmo, ou por isso, decidiu escrever poesia.
Publicou um livro, bem recebido, aos 35 anos. Em 1951, aos 40, após persistente experiência em infelicidade, tomou um navio cargueiro sem destino definido. Parou no Rio, conheceu Lota de Macedo Soares, também com 40 anos. Apaixonaram-se e Bishop mudou-se para o Brasil, aqui vivendo 15 anos no seu primeiro lar, ao lado da companheira. "Morri e fui para o céu sem merecer", protestava ela. Em 1967, Bishop não agüentava mais o Brasil, sujeito a turbulências políticas (estava aqui quando Getúlio se suicidou, Juscelino quase foi impedido de tomar posse, Jânio renunciou, Jango governou sob parlamentarismo e presidencialismo, os militares deram um golpe). Chocava-a a desmedida convivência entre pobreza e corrupção. A relação com Lota se esfacelara. Bishop retornou aos Estados Unidos. Lota foi em sua busca e suicidou-se na noite da chegada.
Bishop faleceu inesperadamente em 1979, aos 68 anos, de aneurisma. Deixou publicados poucos menos de cem poemas, que mereceram o Pulitzer, o National Book Award e o Newstadt International Prize. Passou a ser a mais estudada entre os poetas norte-americanos. Seus dois livros - Poesia completa e Prosa completa - ocupam alguns centímetros, enquanto a bibliografia sobre eles toma prateleiras.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Resposta

O que a memória ama, fica eterno.Te amo com a memória, imperecível.
Adélia Prado

domingo, 6 de setembro de 2009

Carta a D.

"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher".
Em tempos em que o amor é tão banalizado e que paixões verdadeiras somente são vivenciadas na literatura, me emocionei com o relato apaixonado e apaixonante que André Gorz faz dos sessenta anos que dividiu com a companheira Dorine. O texto é lindo, envolvente e inegavelmente uma declaração de amor, que inclusive me fez compreender o suicidio de ambos como um ato genuíno de amor, já que para eles, a vida que não pudesse ser compartilhada entre ambos, não era vida.

...


"Amor é um desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado."
Robert Frost

sábado, 5 de setembro de 2009

Poemeu.


As vezes profana, cadela no cio, olhar que embriaga, provoca arrepio...
Teu corpo vagueia, promiscuo e sensual, me prende na teia... Loucura total...
Se me ama ou me quer Não sei e não interessa, eu quero ser tua, numa entrega sem pressa.

S.

domingo, 30 de agosto de 2009

Queremos algo diferente????


É PRECISO TER O CAOS DENTRO DE SI PARA GERAR UMA ESTRELA.
Nietzche

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eterna Clarice

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:- E daí? Eu adoro voar!Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.
Clarice Lispector

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Poemeu


Um frenesi... uma loucura... bocas, beijos, salivas e suores...
Descompostura
Somos errados? Somos errantes?
Somos amigos... ou somos amantes ???
Sil Alves

Matando minha fome


Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…
Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada
É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?
Clarice Lispector

Finjo ser poeta e assumo: esta é minha maior petulância, porém, sinto uma necessidade quase divina de mostrar minha face... meus EUS. Escrever é me inventar... é não deixar de existir... é não morrer. Não escrever é pecar... é me dissolver na correnteza do vazio e me perder.
Na verdade:
ESCREVO PARA ME SACIAR.
Sil Alves

quinta-feira, 7 de maio de 2009

...



Ai daqueles que não morderam o sonho e de cuja loucura nem mesmo a morte os redimirá.


Paulo Leminski


Nascimento


A fragilidade do vidro nasce da força e do ímpeto do fogo.
Fabrício Carpinejar
Parece contraditório, mas o fogo tão impetuoso e voraz, molda o vidro, em sua transparencia e fragilidade. Sem o fogo, o vidro não existiria, queimar-se é condição de nascimento.
Fui forjada no fogo... nasci da mistura do medo, da curiosidade e da paixão...
Me queimei? Muito! Mas só me queimando comecei a viver...