sexta-feira, 9 de julho de 2010

Na natureza selvagem


Into the Wild é o nome original do livro escrito por Jon Krakauer em 1996, e que conta a história verídica de Christopher McCandless. Em 2007 o livro foi adaptado para o cinema, cujo filme recebe o mesmo nome, versão em Português Na Natureza Selvagem. Trago esse filme para o post de hoje pois simplesmente amei ele. A mensagem que ele transmite é maravilhosa, se você não viu, aconselho. Ele é uma aventura, um drama e uma biografia; tem 140 minutos e foi dirigido por Sean Penn, também diretor dos filmes Uma lição de amor (I am Sam), Sobre meninos e lobos (Mystic River) e 21 gramas (enfim uma tradução condizente, 21 grams).
Após concluir seu curso na Emory University, o brilhante aluno e atleta Christopher McCandless abre mão de tudo o que tem e de sua carreira promissora. O jovem doa todas as suas economias - cerca de US$ 24 mil - para caridade, coloca uma mochila nas costas e parte para o Alasca a fim de viver uma verdadeira aventura. Ao longo do caminho, Christopher se depara com uma série de personagens que irão moldar sua vida para sempre. Mais do que isso, acredito que ele tenha mudado a vida das pessoas que encontrou no caminho. Todas queriam que ele fizesse parte de suas vidas. E ele as fez refletir sobre suas próprias vidas. Recheada de citações literárias ásperas e de caráter contestador, a história aborda várias possibilidades de vida fora do sistema, assim como seus motivos e problemas; o que definitivamente nos faz refletir muito. Eu refleti muito sobre o sistema em que estou inserida, em que estamos inseridos. E dá vontade de burlar ele, ou ao menos tentar modificá-lo.
Bom, pra ficar mais claro, a história em questão surgiu de um artigo escrito em 1993 por Jon Krakauer e publicado na revista Outsider, sendo lançado como livro alguns anos depois. A história é a narração da viagem de Chris McCandless, como já citei anteriormente. Seu objetivo final seria sobreviver algum tempo no Alasca, lugar que ele supunha como o mais selvagem de todos, onde a natureza se sobressai a quase todas as tentativas humanas. Aliás, seu objetivo real era testar as possibilidades de sobrevivência fora da estrutura e burocracia criadas pelas sociedades atuais. Buscar, no retorno a um estado quase natural, a essência da humanidade já perdida há tanto tempo. E por isso, considerei maravilhoso.
Levando consigo apenas uma mochila com pertences úteis que ele foi adquirindo em sua jornada de dois anos, Chris adota o codinome Alexander Supertramp que ele vai deixando entalhado, escrito ou rabiscado em vários dos lugares por onde passou. Em sua mochila também há espaço para seus autores prediletos, como Thoreau e a Desobediência Civil e Pasternack com seu Doutor Jivago. São os companheiros mais constantes em sua viagem, apesar das pessoas que encontra no caminho, com as quais prefere não criar laços. Seu obejtivo é chegar ao Alasca.
Desbravando e pedindo carona, Alex encontra um casal nômade e hippie e logo de cara estabelece uma bonita relação com Jan, algo entre a ternura e a cumplicidade que ele nunca veria instalada entre ele e sua mãe, e muito menos com seu pai. Seguindo sua rota sozinho, ele aceita trabalhar na propriedade de Wayne Westerberg, pegando no pesado e ouvindo algumas novas opiniões a respeito de sua total falta de esperança com as relações humanas. E isso é um ponto interessante, pois apesar do tom crítico do enredo, Alex não é posto no patamar de dono da verdade. Suas opiniões exaltadas e desesperançosas são contestadas por todos que encontra pelo caminho. E é nessa troca que ele também consegue ajudar os outros a enxergarem melhor algumas questões.
Um pouco antes de alcançar o Alasca, Alex conheceu então Ron Franz, com quem dividiu bons momentos, ensinou e aprendeu algumas boas lições.
Vida real: McCandless existiu e não é somente um personagem de ficção. Sua história tornou-se conhecida através do artigo publicado por Krakauer, que por sua vez precisou também de muito esforço para reconstituir os passos de Alex; depois que saiu de casa ele não entrou em contato com a família. Foram dois anos sem contato, sem cartas e nem telefonemas. Tanto que o filme é entrecortado por passagens escritas por ele num caderno que levava consigo, e também por depoimentos de sua irmã (no filme, interpretada por Jena Malone) sobre o que sentiu na época do desaparecimento dele.
Importante para o filme também é a fotografia que em muitos momentos coloca o personagem em proporções naturais em meio a natureza, ressaltando o que há de ególatra naqueles que julgam ser possível submeter as questões naturais aos nossos desígnios. O que surge é uma fotografia convencional e bela, intercalada com tentativas e enquadramentos mais ousados, talvez fugindo da obviedade fotográfica.
Não vou contar o final por motivos evidentes, mas deixo dito que esse é um daqueles filmes que nos fazem pensar, de verdade, que sentido significativo podemos dar a nossa vida.
Algumas frases do filme:

"O importante não é ser forte, mas sentir-se forte."
"Eu vou parafrasear Thoreau aqui... mais que amor, que dinheiro, que fé, que fama, que equidade... dê-me a verdade."
"Quando você perdoa, você ama. E quando você ama, a luz de Deus brilha em você." (parte linda à parte, quando McCandless conversava no topo de uma monatanha com Ron Franz e a luz do sol se abateu sobre eles).
No início, McCandless pensava: "Você não precisa de relacionamento humano para ser feliz, Deus colocou tudo ao redor de nós." No final de sua experiência, ele nos traz a coisa mais bela que poderia ter aprendido - e nos ensinado:

A felicidade só é real quando partilhada.

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